quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Adolescência


                                                                        SÍNDROME DA ADOLESCÊNCIA NORMAL 
 
         Maurício Knobel (Professor emérito pela UNICAMP. Professor de Psiquiatria Geral da Infância e Adolescência) aponta que  “fazem já mais de trinta anos fiz a proposta de considerar o que denominei a “Síndrome da Adolescência Normal” (Knobel, 1962; Aberastury e Knobel, 1992). Posteriormente, esta definição psicodinâmica e cognitiva apareceu para nós como o resultado lógico da elaboração de ‘lutos’ próprios desta fase evolutiva. Assim, o luto pela “infância” perdida através de lutos pelo corpo infantil perdido na família e na sociedade e o luto pelos pais da infância que já não mais realmente existe, necessitam ser elaborados. (Aberastury e Knobel, 1992; Aberastury, Knobel e Rosenthal, 1972). Elaboração de lutos só pode ser feita quando o sujeito, de qualquer idade, passa por estados depressivos. Na adolescência, também observamos este processo, só que, devo acrescentar aqui, que considero que por estes mesmos motivos, os adolescentes vivem numa depressão constante, aparentemente muitas vezes mascarada e, também, normalmente, com claros traços psicopáticos que aparecem das maneiras mais diversas na expressão de condutas contraditórias descritas na “síndrome da adolescência normal”. Eis aí que já temos “depressão” e “psicopatia”, como expressões psicopatológicas na adolescência, que dependendo da intensidade e do comprometimento do self, podem ser “normais” ou “patológicas”.
        Knobel comenta: "...há indivíduos biopsicossocialmente doentes de agressividade. Pessoalmente e pela minha experiência, considero que o “Estatuto da Criança e da Adolescência” apresenta uma necessária proteção destas criaturas, mas acabou por extrapolar num excesso de impunidade e estímulo à delinquência. Acabou sendo um instrumento demagógico e em parte antissocial. Hoje o “menor” se sabe amparado pela lei da impunidade. Os juizados de menores estão restritos nas suas possibilidades de fazer justiça quando um adolescente criminoso e ciente de sua atividade antissocial, responsável, fica protegido por uma lei baseada na cronologia do delinquente. As delegacias dos menores, já bem escassas e sem recursos humanos treinados, e a ameaça de aparecerem como brutais agressores, tornaram-se um componente psicologicamente punitivo, considerando que, logicamente, sem ordem judicial, nada poderão fazer. Vemos cenas de televisão nas quais as crianças e adolescentes assaltam, roubam, agridem frente às câmeras televisivas e aos transeuntes que só as assistem amedrontados...O perigo que eu enxergo é que frente a tanta impunidade desnecessária, voltem as restrições brutais e indiscriminadas. Já estamos sabendo dos chamados “grupos de extermínio” ou dos “justiceiros”.
        Não se trata aqui de justificar essas falhas de nosso sistema, que peca em protecionismo,  muitas vezes só demagógicos, mas alertar sobre muitos casos de “responsabilidade” na conduta agressiva de crianças e adolescentes, que são também as que entram na droga e no tráfico de drogas, não poucas vezes cientes de sua impunidade legal. Isto nos leva a insistir na necessidade da formação de recursos humanos muito bem preparados para lidar com crianças e adolescentes, com conhecimentos da psicopatologia, da dinâmica familiar e social, e especialmente de procedimentos terapêuticos adequados à nossa realidade.
       "A evolução rápida dos costumes e a maior liberdade da exteriorização dos pensamentos e sentimentos dos jovens, concorrem para que os pais, para não serem qualificados de “quadrados”, cedam cada vez mais a certas imposições dos filhos, muitas vezes irreverentes”. Acrescenta que “tais pais concorrem para desenvolver uma “familite” extremamente prejudicial à formação de uma personalidade sadia.” (Miller de Paiva, 1980). Este outro conceito de “familite” ajuda na formação de um Super-ego brutal, submisso aos desejos e imposições familiares e gerador também de não poucas condutas extremamente violentas. As estruturas familiares exageradamente rígidas e as extremamente permissivas (por desestruturação ou como formação reativa), levam seus adolescentes a recalcar seu ódio, ainda que precariamente, e a procurar uma identificação introjetiva de rigidez violenta, que pode  estourar na psicopatia mais violenta. O medo ao aniquilamento, ou seja, à desintegração psicótica pode obrigar, como defesa, a reestruturações psicóticas e as graves patologias.” (Bleger, 1977).

Fonte de consulta:

Normalidade, responsabilidade e psicopatologia da violência na Adolescência.

M Knobel, D LEVISKY - LEVISKY, DL Adolescência e violência: …, 1997 - davidleolevisky.com
http://davidleolevisky.com/livros/livros/Adolescencia%20e%20violencia%20-%20consequencias%20da%20realidade%20brasileira/capitulo%20IV%20-%20Normalidade,%20Responsabilidade%20e%20Psicopatologia%
20da%20Viol%EAncia%20na%20Adolesc%EAncia.pdf

Enviado por Loici de Lourdes Pontalti
 

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